Breve Comentário de uma poesia cênica.
Ver novamente a senhorita Camille
Claudel, após seis anos de sono, foi um “acorda para a vida”. A
força de uma mulher que, como muitos dos grandes franceses, foram trancafiados
em sanatórios devido a força de suas palavras e de sua arte. Uma arte que pulsa
vida, e que por isso, esta gravada, esculpida na carne, em cada pedaço da nossa
musculatura que irrigada por sangue se faz vida. Um respirar. Um sufocar.
Respirações. Sufocamentos. E a vida lutando e pulsando, fazendo-se poesia nesse
embate.
Ver
novamente a senhorita Camille Claudel, após seis anos de sono, acordou-me do
meu cochilo sobre a força da imagem. Sobre a conexão do invisível - alma, com o
visível - corpo, proporcionando a reflexão que o invisível também se faz imagem.
Discutindo a questão benjaminiana da aura no objeto, afastando-nos do conceito
da tautologia - da objetividade desse objeto, que no caso é corpo da atriz,
porém não é um corpo-objeto dado apenas às funções vitais de um corpo em
movimento, trata-se de um corpo-mente-pensamento-alma, um corpo aurático e
repleto de subjetividade que impulsiona assim, a força na criação das imagens.
Vemos em cena o preenchimento de uma atriz, que mesmo parada, nos presenteia
com a subjetividade de sua força, da força de uma Camille, de uma Zuzu e de
tantas outras mulheres que como tal, foram subjugadas em nossa sociedade.
Ver
novamente a senhorita Camille Claudel, após seis anos de sono, deixou-me
fragilizado, com um embargo no peito e uma vontade imensa de gritar um grito
capaz de fazer tremer as montanhas da Cidade Maravilhosa. Por vezes,
emocionei-me assistindo, ontem, a senhorita Claudel. Por vezes, inquietei-me.
Por vezes, deixei o meu corpo ser esculpido por sua força poética. Por vezes,
minhas carnes gritavam e tornavam-se forma, ora areia, ora barro indo ao fogo,
ora figura modelada e rígida sendo contaminado com a força das imagens que se transmutavam
no palco e vinham de encontro com a plateia, fazendo o acontecimento teatral se
tornar realidade.
Ver
novamente a senhorita Camille Claudel, após seis anos de sono, foi presenciar
um ritual acontecer em cena aberta. Um ritual e o seu contágio, sua
contaminação. Um ritual de imagens que vão sendo postas para que o público
componha as suas metáforas e complete a sua força. Um ritual de imagens
composto e decomposto em ações. Em um dado momento, vemos o palco vazio de vida
(humana), apenas com os objetos da cena - compondo um quadro harmônico na
desarmonia -, que seriam apenas objetos, se nos prendêssemos a visão tautológica
da coisa. Mas embora a cena esteja vazia da presença humana, aqueles objetos
que compõem o cenário estão cheios de vida humana, de aura, de uma vida que os
tornam imagem visível para além do seu significado coletivo. A força da imagem
desse quadro, dessa pintura ou dessa paisagem vazia, faz-nos sentir a presença.
Naqueles objetos, também vemos ações. O presente no ausente. O visível no
invisível. O homem que se faz carne na sua ausência e no silêncio.
Ver novamente a senhorita Camille Claudel, após seis anos de sono, fez-me lembrar de Lulu em suas Certas Coisas “Não existiria som, se não houvesse o silêncio. Não haveria luz, se não fosse a escuridão. A vida é mesmo assim, dia e noite, não e sim...”. So existiu o sentar, porque existiu o ficar em pé. Sentamos para nos deixar ser moldados pela senhorita Claudel durantes os sessenta minutos cronológicos de sua saga no palco. E depois do sentar, ficar em pé se tornou uma ação tão difícil... bater palmas parecia espetar as mãos em espinhos, por um tempo não queria voltar para a realidade, queria continuar respirando aquele encontro e permanecer mais um pouco com a imagem se esculpindo em carne.
Tomaz de
Aquino
Rio de
Janeiro, 16 de março de 2013.
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