sábado, 27 de setembro de 2008

A oralidade de Sebastião Chicute

Este é um comentário feito a partir da oficina Oralidade e Escrita, ministrada por Vinícius Alves, no IV Seminário de Arte e Educação - Círculos de Cultura Paulo Freire, que iniciou dia 23/09/08 e que findará amanhã. Para a execução deste, nós, participantes, tivemos acesso a uma entrevista realizada por Vinícius ao Mestre de Cultura Sebastião Chicute.

Poeta e cordelista, o senhor Sebastião Chicute fez-se presente no III Encontro dos Mestres do Mundo que aconteceu em novembro de 2007 na cidade de Limoeiro do Norte, interior do Ceará. Podemos aqui, ressaltar, além de sua participação no evento, uma conversa informal com o poeta, ocorrida em meio a cervejas às margens do Rio Limoeiro. Nesta conversa, o mestre deu uma aula acerca da tradição oral quando de uma pergunta feita pelo estudante de Letras, Vinícius Alves, da Universidade Federal do Ceará. O poeta mostrou-se seguro sobre o assunto da conversa, embora tenha fugido, com grande maestria, do tema da mesma, pondo em roda outra discussão: a origem da palavra literatura de cordel.


Vinícius Alves: Seu Sebastião, qual o grande xilogravurista do Brasil?

Mestre Sebastião: Rapais eu num tô aqui pra responder isso aí não, purque eu num estudei aí, eu aprendi a lê assim, na beira dos açude.

V.A: Mas o cordel num era feito pintado com xilogravura, né?

M.S: O cordel é...num tinha as gráfica num tinha nada

V.A: E hoje?

M.S: A palavra cordel significa justamente por esse atraso grande que existia, nos princípio num era atraso, era um jeito de ser, aquilo mermo quem diz, diz a velha, o velhoditado, quem num tem cachorro caça com gato, né? Poi bem, se ninguém tinha cola, ninguém tinha gráfica. Qué que fazia um cordel? Melava de grude, istindia numa vara, numa corda assim (Seu Sebastião pega o livreto que tem em mãos, abre-o e simula um cordel estendido numa corda) e poresse motivo ficou sendo literatura de cordel [..].

É possível observar que a maneira de falar do cordelista exerce bastante influência em sua escrita, o que nos possibilita um leitura de que tudo é válido para manter e valorizar a sonoridade do poema levantando reflexões do que viria a ser “o correto” ou “o errado” segundo as normas da gramática que condena algumas práticas desta tradição, como a falha na concordância, conforme podemos observar neste pequeno fragmento do cordel A vida e a morte de Frei Damião:


[...] Resolveu vir para o Brasil

Foi este o seu ideal

Bom frade bom confessor

Nos trabalhos clerical


Foi um servo que viveu

Pra nos defender do mal [...]


Como dito, é possível observar, então, a escrita do Sr. Sebastião Chicute, que de maneira muito particular, transfere a oralidade para seus poemas.

Tomaz de Aquino


3 comentários:

depósito de sonhos disse...

Boa forma de publicar uma entrevista, Tomaz. Adorei o acompanhamento das fotos e os comentários a respeito do material que foi analisado.

Érika Brito disse...

Tomaz, adorei o formato e as palavras empregadas em seu texto. Muito interessante e bem escrito!
Parabéns!

Maurileni Moreira disse...

amei a iniciativa tomaz!!! parabéns!!! vou te acompanhar pelo o meu que é sobre dança. beijos. maurileni moreira
http://diversosmundosoumundosdiversos.blogspot.com