Poeta e cordelista, o senhor Sebastião Chicute fez-se presente no III Encontro dos Mestres do Mundo que aconteceu em novembro de 2007 na cidade de Limoeiro do Norte, interior do Ceará. Podemos aqui, ressaltar, além de sua participação no evento, uma conversa informal com o poeta, ocorrida em meio a cervejas às margens do Rio Limoeiro. Nesta conversa, o mestre deu uma aula acerca da tradição oral quando de uma pergunta feita pelo estudante de Letras, Vinícius Alves, da Universidade Federal do Ceará. O poeta mostrou-se seguro sobre o assunto da conversa, embora tenha fugido, com grande maestria, do tema da mesma, pondo em roda outra discussão: a origem da palavra literatura de cordel.
Vinícius Alves: Seu Sebastião, qual o grande xilogravurista do Brasil?
Mestre Sebastião: Rapais eu num tô aqui pra responder isso aí não, purque eu num estudei aí, eu aprendi a lê assim, na beira dos açude.
V.A: Mas o cordel num era feito pintado com xilogravura, né?
M.S: O cordel é...num tinha as gráfica num tinha nada
V.A: E hoje?
M.S: A palavra cordel significa justamente por esse atraso grande que existia, nos princípio num era atraso, era um jeito de ser, aquilo mermo quem diz, diz a velha, o velhoditado, quem num tem cachorro caça com gato, né? Poi bem, se ninguém tinha cola, ninguém tinha gráfica. Qué que fazia um cordel? Melava de grude, istindia numa vara, numa corda assim (Seu Sebastião pega o livreto que tem em mãos, abre-o e simula um cordel estendido numa corda) e poresse motivo ficou sendo literatura de cordel [..].
É possível observar que a maneira de falar do cordelista exerce bastante influência em sua escrita, o que nos possibilita um leitura de que tudo é válido para manter e valorizar a sonoridade do poema levantando reflexões do que viria a ser “o correto” ou “o errado” segundo as normas da gramática que condena algumas práticas desta tradição, como a falha na concordância, conforme podemos observar neste pequeno fragmento do cordel A vida e a morte de Frei Damião:
[...] Resolveu vir para o Brasil
Foi este o seu ideal
Bom frade bom confessor
Nos trabalhos clerical
Foi um servo que viveu
Pra nos defender do mal [...]
Como dito, é possível observar, então, a escrita do Sr. Sebastião Chicute, que de maneira muito particular, transfere a oralidade para seus poemas.
Tomaz de Aquino
3 comentários:
Boa forma de publicar uma entrevista, Tomaz. Adorei o acompanhamento das fotos e os comentários a respeito do material que foi analisado.
Tomaz, adorei o formato e as palavras empregadas em seu texto. Muito interessante e bem escrito!
Parabéns!
amei a iniciativa tomaz!!! parabéns!!! vou te acompanhar pelo o meu que é sobre dança. beijos. maurileni moreira
http://diversosmundosoumundosdiversos.blogspot.com
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